quinta-feira, 23 de julho de 2009

Hoje é o dia



Hoje bem cedo pela manhã quando acordei, após uma noite de terríveis pesadelos, me senti estranho. Fui até o banheiro e olhei no espelho. Mas não era um inseto.

Que espanto! Que baita susto!

Não reconheci quem eu vi... Um ser medonho! Com olhos de sangue, pelos de animal, dentes de pedra, alguns despedaçados. Desfigurado. Totalmente desfigurado.

Não vou viver assim. Me decidi com firmeza.

Coberto de razão fui até a janela e subi no parapeito. Olhei o chão do play, dez andares abaixo. Me atirei: fui vendo o solo se aproximando em alta velocidade e me espatifei como um tomate!

Não satisfeito, retornei ao apartamento, entrei na banheira (por que será que sempre nos suicidamos na banheira?) e cortei os pulsos! Sangrei até a última gota!

Não satisfeito, fui até a cozinha, girei o botão do gás, mas não risquei nenhum fósforo: enfiei a cabeça no forno e, envenenado, morri.

Não satisfeito, peguei uma faca grande, bem afiada, e me esfaqueei por completo! Muito mais que um haraquiri! Me recortei por inteiro.

Não satisfeito, fui até a farmácia e comprei muitos frascos de soníferos: tomei todos de uma só vez: mais uma vez morria!

Mas ainda não estava satisfeito: fui até o cais e olhei para baixo: rochas pontiagudas. Escolhi a mais rombuda e me lancei de cabeça: me despedacei em cima da pedra maciça, e meus restos rolaram até as ondas que se encheram de sangue. Meus pedaços foram sendo arrastados e vários peixes me disputaram até o último naco de carne.

Não satisfeito, me joguei um balde de gasolina e ateei fogo: imolei-me!

Depois de tudo isto, ainda peguei esta folha de papel e nela anotei estas monstruosidades. Mas a queimei logo em seguida. Suas cinzas se misturaram às minhas e fomos levados pelo vento. Saímos flutuando pela janela e nos incorporamos à poluição urbana; nossa fuligem e o gás carbônico.

Voltei então ao meu quarto, pois ainda não estava satisfeito: subi numa cadeira amarrei uma corda no lustre e me enforquei pendurado; chutando a cadeira pro lado. Escutei meu pescoço quebrando. Vi tudo escurecer.

Então recobrei os sentidos, escrevi novamente este texto louco e o coloquei na fila de edição do Portal Literal.

Quando for para votação estarei soterrado, pois logo em seguida fui até uma rua de trânsito caótico, cheia de obras, e me lancei num buraco da Light (ou era da Cedae?) no meio da cidade cheia de gente; e este foi logo tampado. Um grande trator lançou sobre meu corpo toneladas de terra. E depois o chão foi asfaltado.

Nunca mais acordei. Atravessei um outro portal, sem filas. Nada mais vi. Então, parece mesmo, que agora morri. Desculpem, suponho que não poderei agradecer os comentários.