sábado, 27 de dezembro de 2008

Colégio Estadual André Maurois


Eu tinha dezessete anos, fazia tres que saíra de lá.


Senti um impulso muito forte, uma tentativa de religar o tempo passado. Morava ainda relativamente perto, em frente a praça Antero de Quental, na Ataulfo de Paiva. Mas era um tanto distante e a ansiedade do reencontro me fez pegar um ônibus.

Ao atravessar a Bartolomeu Mitre e ver o prédio, senti um nó na garganta. Quantas coisas vivi ali? Quatro anos. Aqueles que nos levaram da infancia à adolescencia, por isto tão cheios de receios, anseios, descobertas, inocencia (pelo menos um restinho) e, imersos naquela sucessão de acontecimentos extraordinários, não nos dáva-mos conta do quanto eram mágicos.

Me lembro do primeiro dia, ah! esse primeiro instante! em que todos se desconheciam. Fiquei um bom tempo parado na porta da sala, olhando aquelas pessoas desconhecidas, fascinado! Quantas meninas lindas! pensei, que sala bonita, que colégio legal.

Me lembro com nitidez de cenas que em sequencia encheriam, facilmente, mais de trezentas páginas, talvez seiscentas. Como éramos zoneiros! Era meio largado em casa, e na escola tambem, o casamento de meus pais naufragava. Muitas vezes não levava material nenhum. Ficava sempre em segunda época e só passava raspando.

Aprendi a prestar atenção às aulas e colar nas provas. Nisso era perito. Ficava sempre na diagonal do Luis Antonio, ao lado das janelas, o puto só tirava dez! Era "o" cdf. - é relevante dizer, no entanto, que em redação não tinha cola e meus textos eram bem elogiados pelas professoras, qualquer dia deixo aqui uma do vampiro, atualizada -, ao meu lado ficava o Fred, na frente o Roberto e o Sergio Waisman, ao lado, no meio da sala, a "tropa de elite": Branca, Maria Luíza, Angela e Luciana, na frente delas os quatro que formavam a fila de frente: Nolasco, Cotrim, Rogério e Luiz Carlos (perdoem se estiver incorreto, mas não tenho certeza, a memória não é tanta assim, aceito correções); na ala oposta - a da porta da sala - sempre o Paulo, André, Guelerman, Armando, Mug e Heitor, com Maria Amélia, Ana Cristina, Maria Inês e Maria Tereza na fila da frente. A Cláudia dava plantão logo atras da tropa de elite, comandando o batalhão. O Nilo pela frente, o Chacel em vários pontos, inconstante. O Rodrigo e o Maurício ali no meio, entre a "tropa" e a fila da frente. Ah! e o Henrique!. Estacionava sua ferrari perto deste último grupo. Pode não ter sido exatamente assim, mas é como ficou gravado.

Depois chegaram Ana Helena, Mônica e Sueli.
Esta era a turma que eu queria rever naquela tarde, tres anos depois.

Claro que lá não estariam, mas..., de alguma forma (quixotesca) quis reencontrar o grupo, aquela Gabriela Mistral. Mas ao entrar ali logo percebi que não conhecia mais ninguem, que a história não retrocede; na secretaria já eram outras as pessoas, a sala da diretoria mudara, tudo mudou.

Nunca mais ver jogos de futebol na quadra do pátio na hora do recreio, nunca mais ver dona Selmani - a macaca cenozóica - nem Idê (?) professora gatíssima que lecionava geografia no primeiro ano, era loura com lindos olhos verdes; nunca mais soprar como zarabatanas bolinhas de papel amassadas com cuspe pela "casca" da caneta bic, nunca mais.

Após algumas passeadas pelos corredores saí com o aperto no coração ainda mais forte.

Depois desta tentativa de fracasso lógico, até hoje, tenho sonhos vez por outra nos quais procuro encontrar nossa sala, a da Gabriela Mistral, procuro pelos andares, subo e desço as escadas, angustiado, aonde estão? mas nunca encontro.

Como foi bom revê-los! No ano passado. Como fiquei feliz! Como é bom nos falarmos!

A lembrança daqueles tempos especiais preenche o vazio que hoje sinto quando passo pelo Colégio Estadual André Maurois.

Aquele de Henriete Amado.

Aquele que tanto amei.

10 comentários:

  1. Caro Xará,

    Tá vendo, até os piores alunos têm o que ensinar. Sentar na diagonal do CDF com os olhos que temos naquela altura da vida equivale a estudar 26 horas por dia.

    Meu colégio, cara, é lá no interior de Minas, muito difícil de encontrar com ele por aqui. Difícil, mas não impossível, pois o acaso às vezes nos traz um amigo daquela época, então pronto, o colégio se apresenta inteiro, tal como era.

    Abraços,

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  2. Valeu, Xandão.

    Bom ler seu comentário, inaugural.
    É um prazer ler seus textos, continuarei visitando o no osso, vez por outra; sou mesmo, apenas um aprendiz (esqueci de mencionar, mas em redação só tirava notão!), vou acrescentar, é relevante afinal.

    abraços

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  3. Alex,

    Quantas lembranças gostosas..né?? Flutuei até meu primeiro ano do ensino médio (antigo científico)...Colar para mim não era problema..irmã gêmea..na mesma sala e ainda por cima super inteligente e CDF...Fácil...eu só tirava notas boas..hahahaha
    Estou adorando seu blog..
    Super beijossssssssssss
    Rê.

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  4. Valeu Regina,

    Como será ter irmã gemea na mesma sala?..., só tendo.
    Obrigado pela visita,

    beijos

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  5. Alexandre,
    Cheguei dps sim mas essa turma tomou conta de mim e preencheu minhas melhores lembranças dessa fase da vida.
    A cada encontro revivemos o mesmo carinho, a mesma "molecada" ...o papo corre ágil, esperto, com um sorriso no canto da boca e o brilho nos olhos atestando a cumplicidade desta amizade que transcede o tempo.
    Ana Helena

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  6. Oi Lena, querida!
    Quanta emoção somos capazes de sentir? Uma pena eu ter perdido os últimos encontros, mas estou me recuperando, e acho que no próximo nos reencontraremos, para nosso prazer!
    bjs
    Alex

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  7. Oi Alexandre, que iniciativa bacana a sua de criar este espaço!
    Entrei em 69 e vivi intensamente meus 2 anos de Gabriela Mistral!
    Ao todo, foram 4 anos de André, mas o que mais me marcou mesmo foram os 2 na Gabriela.
    Guardo, claro e límpido, em minha mente, os rostos de todos vocês naquela época, totalmente nítidos, como se o tempo não houvesse passado e também a posição de cada um na sala de aula.
    A emoção do nosso encontro em 2006 foi impactante e também guardo com muito carinho as feições recentes, todos extremamente felizes por se sentirem de novo nos braços da família!
    Lembro de 2 redações maravilhosas: a sua do Vampiro e a do Mug, do Ponto. Lembra?
    Resgata o Vampiro e manda p/ gente, OK?
    Aguardo ansiosa por sua recuperação e que possamos de novo estar juntos!
    Grande beijo,
    Mônica.

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  8. Mônica querida,
    Estaremos juntos outras vezes, prometo.
    A redação do Mug, não lembro... será que ele lembraria?
    Quanto a do vampiro, a original perdeu-se, ficaram na memória alguns trechos, vou tentar reescrever.
    Tem uma outra história de vampiro, atual, que faz parte de um livro que publiquei com tres contos: Histórias Pressentidas.
    Você encontra em:
    http://clubedeautores.com.br/backstage/my_books/1098.
    Obrigado pela visita e comentário.
    bjs
    alex

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  9. Eduardo, lendo teu texto, me lembrei de tanta coisa boa... Tambem estudei no Andre Maurois, so que depois de Henriete Amado, em que anos estudastes ali? Saudaçoes...

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