domingo, 19 de abril de 2009

Fim do Mundo



Estou ainda indeciso..., parado; olhando pela janela do apartamento.

Vejo pessoas andando pelas ruas e calçadas em torno do prédio.


Para onde irão agora?


Estão assustados, apavorados.

A enorme nuvem cinza se espalhou por todo o céu.

Mal se vê o outro lado da rua.


Com as vidraças fechadas tento manter meu ar respirável. Não sei por quanto tempo aguentarei ficar aqui dentro. A geladeira já está vazia e só resta um pouco de água na garrafa. A água que sai pela torneira está suja e contaminada pela poeira.


O calor aqui dentro está se tornando insuportável.

Talvez a única possibilidade seja o subsolo.


As pessoas que estão lá fora não duram muito tempo. A maioria morre em poucos minutos. Os corpos se espalham pelas redondezas. Vão se misturando ao lixo que se acumula nas ruas desfiguradas.


Este deve ser o fim do mundo, pelo menos do nosso mundo, o dos humanos. As grandes erupções vulcânicas que tiveram início dois dias atrás lançaram toneladas de gases e cinzas na atmosfera.


O sol não se vê.

Os dias são quase tão escuros quanto às noites.


Minha família - minha esposa e meus quatro filhos - se perdeu quando tudo começou. Nos falamos há dois dias pelo telefone enquanto ela tentava chegar em casa após ter pego os meninos na escola. Ela estava apavorada, assim como todos nós, com o que acontecia à nossa volta. A bateria do celular acabou e fiquei sem saber como ou onde estão.


Não me resta outra saída que não seja o subsolo.


Pego algumas coisas que podem ser úteis, coloco a garrafa com água na mochila e saio do apartamento.


Nas escadas de serviço está tudo escuro.

Escuto vozes de pessoas em desespero.

Algumas estão chorando, outros enlouqueceram e não param de gritar.


Muitos se atiram pelas janelas e se espatifam nas calçadas já cheias de corpos.


Desço até a garagem.

Procuro pela tampa do esgoto.

Por já tê-la visto tantas vezes encontro-a facilmente no meio da escuridão. Levanto o alçapão e desço por uma escada na lateral do fosso. O cheiro é terrível. Sinto que estou entrando numa área líquida. Meus tênis chegam ao fundo. Estou com água pelos joelhos. A galeria subterrânea tem dois sentidos. Opto pelo da esquerda.


Vou seguindo solitário no meio do túnel negro, sentindo a água espessa e fria nas pernas, algumas coisas esbarram nelas, procuro manter o controle, respiro fundo, um fedor terrível, ando vagarosamente, tateando a frente e aos lados com muito cuidado para não bater com a cabeça em nenhum obstáculo. Quando encosto nas laterais úmidas, meus dedos percebem na superfície da parede substancias gelatinosas, lodos e lamas, insetos, baratas. Manter a calma, digo para mim mesmo, manter a calma.


Ratazanas disputam espaço comigo.

Ou talvez queiram me devorar.

São astuciosas, trabalham em bando.

Meto o facão em tudo que se mexe na escuridão fétida e molhada.



(continua em breve)



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